Dra Vanessa Barcelos – Dermatologista em Belo Horizonte – MG

pessoa com dermatite atópica coçando

Já recebi muito no meu consultório pacientes que afirmam ter “dermatite desde a infância”, mas que não entendem ou sabem explicar muito bem o que aquilo realmente significa.

Meu objetivo neste artigo é explicar mais sobre a dermatite atópica e o porquê de não bastar saber que se tem uma “dermatite”.

O que é a dermatite atópica?

Ela é uma doença que causa inflamação da pele, que costuma se manifestar com coceira recorrente e vermelhidão em locais típicos, que variam de acordo com a idade da pessoa acometida.

Os locais mais comumente afetados, de acordo com a faixa etária, são:

  • Bebês: rosto e regiões extensoras dos braços e pernas (a parte “de fora” dos membros)
  • Crianças: pescoço e regiões flexoras dos membros (a parte “de dentro” dos cotovelos e joelhos, por exemplo)
  • Adolescentes e adultos: além das regiões flexoras, existe maior acometimento de mãos e rosto

É mais comum em pessoas que tem histórico pessoal ou familiar de doenças respiratórias como asma e rinite alérgica. Essas doenças, bem como a dermatite atópica, agrupam-se no chamado “doenças atópicas” e geralmente podem estar associadas em um mesmo paciente – o paciente atópico, que popularmente é chamado de “alérgico”.

A dermatite atópica, comumente, se inicia na infância e tende a melhorar com o tempo, mas a sua persistência após a puberdade é possível, assim como o seu surgimento na fase adulta.

Ela pode vir associada a outras alterações, como ressecamento generalizado da pele, conjuntivite de repetição, linhas intensas nas palmas das mãos, olheiras escuras, “rugas” nas palpebras inferiores etc.

Por quê não se pode dizer apenas “dermatite”?

O conceito de “dermatite” é inflamação na pele que repercute com vermelhidão, descamação e coceira. Existem diversas doenças que podem apresentar inflamações desse tipo, com diferentes causas pode trás delas.

Alguns exemplos seriam:

  • dermatite de contato irritativa, causada por substâncias que agridem diretamente a pele das pessoas, como produtos de limpeza, cimento, graxas e tiner
  • dermatite de contato alérgica, que é uma doença em que a pessoa acometida tem alergias a determinadas subtâncias como couro, plástico, metais de bijouterias, borracha, etc manifestando vermelhidão e coceira quando entram em contato diretamente com esses materiais
  • dermatite de estase, quando o paciente tem problema circulatório nas pernas e, por esse motivo, o sangue fica acumulado e extravaza dos vasos sanguíneos, levando à inflamação e alteração da pele nesses locais

Portanto, saber que tem dermatite é pouco; neste caso, saber o sobrenome da sua doença é essencial para ententer o que se tem, para saber como lidar e tratar da melhor forma possível!

lupa nas cores

Como saber se o que se tem é dermatite atópica?

A melhor resposta é: consultando um médico dermatologista de confiança. Para entender a importância de escolher um bom dermatologista e como tomar essa decisão, veja o artigo neste link:

https://vanessabarcelosdermato.com.br/quando-procurar-o-dermatologista

O dermatologista tem condição de saber se uma pessoa tem ou não a doença durante a consulta, após uma conversa detalhada e um exame físico bem feito. Na maioria dos casos não são necessários exames para o diagnóstico, apesar deles poderem ser pedidos caso haja alguma dúvida em casos atípicos.

Já que existem várias dermatites, com diferentes causas… qual é a causa da dermatite atópica?

A dermatite atópica é uma doença complexa, em que existem vários fatores associados resultando na doença em si. Basicamente, existem 3 que são bastante importantes:

  1. alteração da microbiota da pele, o que significa que existe um desequilibrio nos microrganismos que existem na superfície, levando a alterações da barreira com perda de defesa
  2. alteração estrutural da pele, que faz com que a pele fique mais “aberta” e exposta a agentes alergênicos e irritantes externos, além de perder facilmente a água do corpo e levando a um maior ressecamento
  3. alteração da imunidade local, o que faz com que haja um aumento na resposta inflamatória (vermelhidão e coceira) da pele no contato com fatores comuns, como poluição e suor

Além disso, existe uma predisposição genética da pessoa para desenvolver essa doença e outras atopias, como já dito anteriormente neste artigo.

Como tratar uma dermatite?

Conforme explicado, não existe apenas uma dermatite e precisamos considerar qual estamos tratando, para entender a sua causa e a melhor abordagem terapêutica para o seu controle.

Entretanto, existem condutas gerais que são úteis em qualquer dermatite:

  • evitar o uso de pomadas e cremes que moram nas gavetas do banheiro há anos, pois além de poderem estar vencidas, geralmente tém várias substâncias que não fazem efeito e potencialmente podem causar/piorar as alergias da pele
  • jamais usar receitas caseiras como compressas de chás, folhas, café, álcool, limão, bicarbonato etc
  • hidratar a pele para a restauração da sua barreira – com produtos hipoalergênicos e sem fragrância. Na dúvida, aposta na vaselina!
  • e consultar um dermatologista capacitado para se ter um correto diagnóstico 😉
cremes nas mãos

No caso específico da dermatite atópica, torna-se essencial a hidratação da pele e cuidados especiais na hora de se tomar o banho, visto que ele pode piora o ressecamento da pele e as manifestações de coceira e irritação. Alguns cuidados importantes são:

  • evitar vários banhos por dia. O ideal é somente um e, caso queira tomar mais um, este deve ser sem sabonete;
  • não tomar banho com água quente e escolher a temperatura mais morna
  • tomar banho pelo menor tempo possível (o planeta agradece!)
  • não utilizar NUNCA buchas ou esponjas. Não, esponja vegetal não é bom – é péssimo! Sim, eu te garanto que você vai ficar limpo apenas com água e sabonete
  • utilizar sabonetes mais neutros, com pH mais próximo ao da pele, que está na faixa de 5,5
  • hidratar bastante a pele nos primeiros minutos após o banho, ainda com a pele úmida

Além disso, a depender do caso, podem ser associados medicamentos de aplicar na pele como pomadas, administrar por via oral ou por via subcutânea. A medicina avançou muito no estudo da dermatite atópica e na compreensão das suas causas, o que permite um crescimento nas opções de tratamento dessa doença. O que é maravilhoso, uma vez que ela costuma impactar muito na qualidade de vida das pessoas acometidas, no sono e no trabalho delas.

Para entender o que é melhor para cada paciente, o dermatologista deve ser consultado!

Espero que eu tenha ajudado a entender a diferença entre os termos e a importância de se entender a fundo o que se tem – só dessa forma é possível controlar melhor a doença!

Caso queira ler mais sobre dermatite atópica, aqui estão algumas referências:

https://www.anaisdedermatologia.org.br/pt-consenso-sobre-o-manejo-terapeutico-articulo-S2666275223001443

http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=1324

Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!

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